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segunda-feira, 11 de maio de 2015

58 mitos clássicos em que continuamos acreditando


58 mitos clássicos em que continuamos acreditando

Lendas urbanas crescem com a Internet, mas por isso é mais fácil desmenti-las

A Muralha a China é grande, mas não a ponto de poder ser vista do espaço. / Getty Images

A Internet divulga rumores, mitos e lendas urbanas a toda velocidade. Mas também é um meio idôneo para desmenti-los. O site Snopes faz isso desde 1995. Não estão sozinhos: no ano passado, o site Information is Beautiful elaborou um infográfico com 52 dos mitos mais difundidos e o Mental Floss costuma publicar vídeos desmentindo mitos e crenças populares, como este dedicado à ciência. Recolhemos outros 58 exemplos neste artigo, com links que ampliam (e inclusive contextualizam) a informação em muitos dos meios de comunicação e sites que se dedicam a nos lembrar que, frequentemente, estamos errados.

Corpo humano

mais informações

1. Só usamos 10% de nosso cérebro. Um mito que resiste a morrer e que é inclusive o ponto de partida de filmes recentes como Lucy. O jornal The Guardian chama-o de “o maior mito sobre o cérebro da história”: 48% dos professores britânicos acreditam. Segundo o Snopes, nem mesmo sua origem está clara. O certo é que usamos todas as áreas de nosso cérebro, até quando estamos descansando. É verdade que o cérebro é muito flexível (podemos viver com metade dele) e que não usamos tudo de uma vez, já que algumas áreas estão especializadas: quando caminhamos, por exemplo, as partes centradas na atividade motora a motor são mais ativas que outras. Mas não há uma parte do cérebro que não faça nada e que esteja esperando ser ativada para ganharmos superpoderes.
2. Os neurônios não se regeneram. Desde os anos 90 há provas de que o cérebro tem capacidade de regeneração, pelo menos em alguns casos e inclusive depois de um infarto cerebral, graças à neurogênese.
3. Um dos hemisférios do cérebro é dominante e isso determina se formos mais artísticos ou mais racionais. É verdade que certas áreas do cérebro são especializadas: a linguagem é processada no hemisfério esquerdo, por exemplo. Mas não é verdade que um dos hemisférios domine sobre o outro, por melhor que alguém seja com as palavras.
4. As partes da língua estão especializadas em diferentes sabores. Embora seja algo que muitos aprendemos quando crianças, os receptores de sabor estão distribuídos por toda a língua. Como apura o New York Times, sim poderia haver diferenças em como homens e mulheres detectamos os sabores amargos, doce, salgados e ácidos. Além disso, há um quinto sabor, umami, que significa “saboroso” e que está presente nas proteínas.
5. O álcool esquenta o corpo. As bebidas alcoólicas dão sensação de calor, mas o álcool baixa a temperatura corporal, por isso é realmente perigoso beber álcool quando faz muito frio. O mesmo acontece com o café, segundo o Mental Floss.
6. E mata neurônios. Embora algumas manhãs pareça que os gin tônicas da noite anterior tenham arrasado nosso cérebro, o álcool não chega a matar neurônios. Mas o consumo excessivo durante muito tempo pode danificar as conexões entre essas células e causar atrofia e degeneração (reversíveis).
7. O frio causa resfriados. Os resfriados são provocados por um vírus que viaja por via aérea “através das gotículas originadas ao falar, tossir ou espirrar”, não pelo frio em si. Como acrescenta a OCU, quando faz frio, passamos mais tempo em espaços fechados e em áreas comuns (escolas e escritórios). Além disso, nas regiões com pouca umidade, as fossas nasais secam mais facilmente. Tudo isto contribui para facilitar o contágio. (Além disso e como nos avisam no Twitter, o frio pode debilitar o sistema imunológico, o que abre a porta para os resfriados).
8. E a vitamina C os previne. Não há nenhuma prova que confirme esta relação, mas é verdade que uma alimentação saudável, com frutas e vitamina C, nos ajuda a manter a saúde. Também é verdade que a vitamina C pode ajudar a reduzir o tempo da doença, segundo alguns estudos.
9. As unhas e o cabelo continuam crescendo depois da morte. Um cadáver não pode produzir novas células. A BBC explica que a pele em volta das unhas se desidrata e por isso elas parecem mais longas. O mesmo ocorre com a pele do queixo, o que faz parecer que a barba cresceu. Dá medo do mesmo jeito.
10. Estalar os dedos causa artrite. Esse ruído nas articulações dos dedos é produzido por bolhas de gás acumuladas ali e não tem efeitos nocivos.
11. Um chiclete engolido demora sete anos para ser digerido. Esta advertência que todos ouvimos quando crianças é falsa: os chicletes não ficam grudados no estômago ou no intestino, nem demoram mais para serem eliminados, mas, como lembra o Snopes, “chegam ao outro lado sem mudanças substanciais”.
12. Temos cinco sentidos. Além dos cinco sentidos tradicionais já catalogados por Aristóteles, temos uns quantos mais: entre 9 e 20, dependendo da definição usada. Entre eles a autopercepção, que nos permite saber onde estão as diferentes partes de nosso corpo, os sentidos de temperatura, da dor e do equilíbrio. Alguns apontam que o mais fácil é dividi-los em três grupos: mecânicos (tato, ouvido e autopercepção), químicos (paladar, olfato e os sentidos internos) e a luz.
13. Cortar o cabelo (e barbeá-lo) torna-o mais forte. É uma impressão passageira, porque cada fio de cabelo acaba em ponta, mas o corte é feito na parte mais espessa.
14. “Rápido, urine nessa queimadura de água-viva”. Vinagre e urina não são boas ideias para aliviar a dor dessas picadas.
15. O estresse faz você ficar de cabelos brancos. Não exatamente: o estresse provoca queda de cabelo e o cabelo com pigmento é mais fraco, por isso são esses que caem, enquanto os brancos permanecem. Quer dizer, se já tiver cabelos brancos, o estresse o deixará só com esses. Se não tiver, corre o risco de ficar careca.
Animais
16. Os avestruzes escondem a cabeça embaixo da terra. Baixam a cabeça ao nível do chão para passar despercebidos e parecerem um arbusto, mas o mais normal é correrem.
17. Os lemmings se suicidan em massa. Como explica o site io9, esses roedores do Ártico passam por ciclos de população em que se multiplicam por 100 ou até por 1.000, para logo baixar até quase a extinção, já que dependem de climas muito frios para se reproduzir. Nos picos de população, muitos grupos de lemmings se vêem obrigados a emigrar e, ocasionalmente, caem em precipícios. Mas por acidente. Não se jogam no vazio. Esses ciclos de população tão bruscos geraram várias lendas, entre elas a de que se jogavam no mar. Um documentário da Disney (sim, Disney) de 1958 deu essa lenda por certa e os autores decidiram comprar um caminhão cheio de lemmings e empurrá-los por um ravina para simular o que em sua opinião a natureza teria feito de qualquer maneira.
18. Segundo a física, o besouro não poderia voar. A abelha era o inseto da história original, que teria sua origem na Alemanha dos anos 1930. Como dizia em seu blog Javier Armentia, diretor do Planetário de Pamplona, “em movimento, a abelha cria uma série de turbulências que explicam sua sustentabilidade”. Embora não se trate de um processo simples, nenhum cientista – nem qualquer outra pessoa sóbria, acrescento – jamais duvidou que um besouro pudesse voar, já que todos viram algum voando.
19. Os tubarões não adoecem de câncer. Claro que sim, e de todo tipo. Por isso não é bom confiar em produtos feitos com cartilagem de tubarão que garantem prevenir essa doença.
20. A memória dos peixes dourados dura só alguns segundos. Os peixes podem aprender, reter informação e usá-la posteriormente, como mostra um experimento em que depois de algumas semanas deixando comida no mesmo lugar, o peixe se aproximava dali antes de ver a comida e quando queria. Também podem aprender a distinguir e recordar música. A explicação está no Mental Floss.
21. Os cães suam salivando. Regulam a temperatura sobretudo com a respiração, ofegando com a boca aberta. A maior parte de suas glândulas sudoríparas estão nas plantas de suas patas.
22. Os touros não vêem a cor vermelha. É verdade que o touro investe por causa do brilho e do movimento da capa. Mas esses animais distinguem sim a cor vermelha, que no entanto não os irrita. Esse mito foi submetido à prova no programa de televisão Mythbusters.
23. Os patos não fazem eco. Seus grasnidos têm eco, embora o espectro deste som seja difícil de receber pelo ouvido humano, como explica o Quo.
24. Os morcegos são cegos. Veem quase tão bem como os humanos. Orientam-se graças a seus olhos, ao sonar de ultrassons, que os ajuda a caçar insetos na escuridão, e a uma bússola interna.
25. As moscas vivem 24 horas. As moscas comuns vivem entre 15 e 25 dias.
26. Um ano de cão são sete anos de gente. Os cães envelhecem a outro ritmo, mas esta famosa equivalência não é exata. Os cães crescem muito mais rápido durante os dois primeiros anos e, de fato, alcançam a maturidade sexual já no primeiro, que equivaleria a uns quinze anos humanos. O Priceonomics publica uma tabela de equivalência, que também depende do tamanho do cão.
27. Engolimos oito aranhas por ano enquanto dormimos. Como apura o Snopes, o mito já foi desmentido em um livro de 1954, mas resiste a morrer. O Snopes cita a revista Scientific American, que assegura que as aranhas provavelmente consideram aterrador um humano adormecido. Menos mal. O Mental Floss esmiúça a lenda urbana neste artigo, que faz referência à explicação do Snopes de que sua difusão recente se deve a um artigo da revista PC Professional de 1993, que queria demonstrar que acreditamos em qualquer coisa que nos enviam por e-mail. A autora, Lisa Holst, propôs sua própria lista de fatos inventados e ridículos. Mas ninguém conseguiu encontrar Lisa Holst na Internet. Existe esse artigo? É outro mito? Esse é um dos grandes mistérios da Internet.
28. Os golfinhos são os animais mais inteligentes depois dos humanos. Não parece. Como relata Jessa Gamble, compreendem signos, como os primatas e os papagaios, mas recordam menos que muitos cães. Reconhecem-se nos espelhos, mas também o fazem muitos animais. A revista Spiegel explica a origem do mito e a polêmica atual.
Ciência e vida cotidiana
29. A água da pia escorre em direção ao ralo em sentidos contrários nos hemisférios norte e sul. De acordo com o Xataka, o efeito Coriolis existe e afeta depressões atmosféricas e furacões, mas é muito fraco e só produz consequências significativas a longo prazo. Portanto, não chega a afetar a maneira como a água cai, fator mais influenciado por outros motivos, como a inclinação, por exemplo.
30. Escutar Mozart nos torna mais inteligentes. O famoso experimento de 1993 que indicou a existência de um efeito Mozart em bebês menores de três anos foi repetido várias vezes sem sucesso. O que não quer dizer que escutar Mozart não seja bom, era só o que faltava.
31. As vacinas provocam autismo. O estudo do doutor Andrew Wakefield sobre a associação da vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) com o autismo falsificou dados e foi retirado pela revista que o publicou (The Lancet). Além disso, foi provado que estava equivocado após um estudo com 1,3 milhão de crianças.
32. Se todos os chineses saltassem ao mesmo tempo, alterariam o eixo de rotação da Terra. Segundo o site Xataka, que cita o livro 100 Mitos de la Ciencia, de Daniel Closa, “a Terra pesa 10 trilhões a mais que todos os seres humanos que a habitam juntos”, por isso, “seria como se uma mosca saltasse sobre a superfície de um navio”.
33. Nunca se deve despertar um sonâmbulo. É possível que a pessoa se mostre incomodada e desorientada. Mais ou menos como quando nos acordam de um sono profundo. É desagradável, mas não há perigo de infarto nem de coma, e, em caso de risco, pode ser até recomendável (para que não tropece e caia). Na BBC recomendam tentar levar o sonâmbulo cuidadosamente à cama sem despertá-lo.
34. A comida que cai no chão leva cinco segundos para se contaminar. Quanto menos tempo, menos possibilidades terá de conter bactérias, segundo a publicação Scientific American. Há outras variáveis que influenciam, como o tipo de solo (madeira seria o pior) ou se a comida está úmida. Mas a maioria dos estudos demonstram que a superfície está contaminada e que não há diferença substancial entre três ou 15 segundos: o melhor é não arriscar.
35. Se alguém urinar na piscina, um componente químico fará com que a água fique vermelha. Segundo o site Snopes, este mito remonta pelo menos a 1958, mas não há nenhum composto que reaja apenas à urina e não a outros componentes orgânicos similares. No Snopes também lembram, inclusive, que muitas crianças o fariam de propósito só para ver a coloração. No blog da loja de piscinas Gunitec, Marcos Gisbert explica que perguntou aos fornecedores por esta tintura e confirmou que se trata de uma lenda urbana: ninguém tinha esse composto químico. Portanto, os que urinam nas piscinas podem continuar sem correr riscos de ficar em evidência. Mas é melhor não cultivar o hábito. Por favor.
36. O soro da verdade funciona. Na BBC testaram o tiopentato de sódio para pôr o mito à prova. É verdade que desinibe, como o álcool, e torna quem o consome mais sugestionável, mas não é confiável. Em realidade, durante o interrogatório simulado, o jornalista começou explicando (entre gargalhadas) que ele era “um cirurgião cardíaco mundialmente famoso”. Quando aumentaram a dose, admitiu sua verdadeira profissão. Mas estes soros quase não têm efeito em quem não quer contar nada.
37. Quando alguém dispara uma arma com um silenciador, quase não faz barulho. Depende da arma, mas o disparo pode ser ouvido e o aparato não se transformaria no melhor amigo de um assassino discreto, como explicam no vídeo do Quora, que mostra um russo disparando uma escopeta com o equipamento acoplado. Os silenciadores são utilizados, sobretudo, para caçar ou para defesa pessoal doméstica. Clique aqui para conferir outro exemplo mais discreto, que permite comparar.
38. Os bebês se parecem mais a seus pais porque assim a natureza demonstra que realmente pertencem a eles. Embora este mito esteja baseado em um estudo dos anos 90, outros negam seus resultados e, inclusive, sugerem que, na realidade, os bebês se parecem menos a seus pais que a suas mães porque assim haveria mais segurança de que o pai cuidaria deste bebê, já que assumiria que é seu, sendo parecido ou não.
39. Deixar lâmpadas fluorescentes acesas economiza. Consomem mais energia no momento em que são ligadas, mas não o suficiente para compensar.
40. Os ovos marrons são mais saudáveis que os brancos. A cor do ovo depende do tipo de galinha, mas não há outra diferença. Nem sequer no sabor. Quando notamos uma cor diferente na gema, é pela alimentação da galinha, e não pela casca, cuja grossura, além disso, depende da idade do animal. Na Espanha, é difícil encontrar ovos brancos porque há anos começaram a associar os marrons aos de fazendas tradicionais, como explicam no blog Directo al paladar.
41. Einstein foi reprovado em matemática. O cientista nunca foi um mau aluno e, de fato, começou a estudar cálculo três anos antes do resto de seus companheiros. É verdade que recebeu a ajuda de outros matemáticos na hora de desenvolver seu trabalho, inclusive de Mileva Maric, sua primeira esposa, possível origem do mito.
42. Não existe Nobel de matemática porque a mulher de Alfred Nobel o traiu com o matemático Gosta Mittag-Leffler, que poderia ter ganhado o prêmio. Como lembra o Snopes, embora Nobel tenha vivido três amores importantes, nunca se casou. Por outro lado, havia mais candidatos que poderiam ter disputado o prêmio com Mittag-Leffler, como Henri Poincaré e David Hilbert. Não se sabe por que não há Nobel de matemática, mas poderia ser porque o rei da Suécia já financiava o prêmio que a revista Ata Mathematica concedia e Nobel talvez tenha preferido não competir com um soberano. É possível, também, que considerasse que era uma ciência teórica demais. Ou pode ser que simplesmente não tivesse interesse.
43. Existiram três Reis Magos. Como lembra Umberto Eco em História das Terras e dos lugares lendários e em seu romance Baudolino – além de a existência de estes personagens não estar confirmada –, os evangelhos só falam de magos, sem indicar quantos eram, como se chamavam e se eram reis ou não, mas havia três presentes. As tradições falam de dois e às vezes de 12 reis magos, com nomes como Hormidz Jazdegard, Hor, Basander, Karundas... No século V, o papa Leão I estabeleceu o número em três e no século seguinte atribuíram seus nomes. Além disso, Baltasar não era negro até finais do período gótico, quando se decidiu que seriam um branco, um árabe e um africano, "para sugerir a universalidade da redenção".
44. A donzela de ferro é um instrumento de tortura da Idade Média. Este sarcófago com espetos em seu interior é uma invenção do arqueólogo Johann Siebenkees, que a criou em 1793, baseado em contos tradicionais. Também se contava, no século XVII, que a condessa húngara Erzebet Bathory usava o instrumento para obter mais sangue de suas vítimas.
Natureza
45. A lua possui um lado escuro. Da Terra vemos apenas 59% deste satélite, mas os outros 41% também recebem luz solar.
46. Se saíssemos no espaço sem uma roupa especial explodiríamos. A forma de morrer neste caso é bem menos emocionante: a falta de oxigênio nos faria perder a consciência em apenas 15 segundos. Não é possível tomar ar e prender a respiração: não há pressão atmosférica e se os pulmões tivessem ar se expandiriam e se destroçariam. Uma vez inconsciente, nos manteríamos vivos durante cerca de dois minutos e morreríamos por não poder respirar, pela radiação ou, provavelmente, devido a um infarto. Não morreríamos congelados porque o vácuo ajudaria a manter o calor de nossos corpos.
47. A Nasa gastou milhões de dólares para desenvolver canetas que funcionassem sem gravidade. Os russos usaram um lápis. Esta história é muito bonita, mas não é autêntica, como conta o Snopes. Nos primeiros voos, os astronautas russos e americanos usavam lápis, mas não era uma ferramenta apropriada: a ponta quebra, o que não é agradável sem gravidade, e, além disso, são inflamáveis, motivo pelo qual representam um risco em caso de incêndio. A caneta espacial foi desenvolvida por uma empresa privada por conta própria, a Fisher Pen Co., e a Nasa as comprou por um preço razoável depois de testar o produto.
48. O Sol é amarelo. Vemos esse astro amarelo por causa da nossa atmosfera, mas, na realidade, ele é branco. Como explica o IFL Science, as fotos de astronautas frequentemente são retocadas para que seja visto como estamos acostumados.
Do espaço, ou quando se está alto o bastante, o Sol é visto da cor branca. / Geoff Elston / Society for Popular Astronomy
49. O sol é uma bola de fogo. A reação é nuclear, não química: o sol brilha, mas não está em chamas.
50. A Grande Muralha China pode ser vista do espaço. Embora haja polêmica a respeito, a verdade é que a grande muralha tem apenas alguns metros de largura, assim como uma estrada ou um aeroporto. Além disso, é de uma cor similar à do solo que a rodeia. Outras construções humanas podem ser vistas do espaço, como as estufas de Almería, o Parlamento da Romênia e a mina de cobre de Kennecot.
51. Os diamantes são pedaços de carvão submetidos a uma pressão extrema. Na realidade, são minerais com carbono que foram expostos a altas pressões. Os diamantes têm entre um bilhão e 3 bilhões de anos de antiguidade. O carvão tem cerca de 300 milhões de anos.
52. A água conduz eletricidade. Na realidade, a água pura é um bom isolante. O que conduz eletricidade são as impurezas, como os diferentes sais. Como a encontramos assim habitualmente (com outros elementos misturados), é melhor que continuemos a nos comportar da mesma maneira em relação a este mito.
53. Deixar uma moeda de um centavo (de dólar) cair de um arranha-céu poderia matar alguém. Elas pesam muito pouco e são planas, por isso, cairiam quase (QUASE) como uma folha, de acordo com a explicação da Scientific American. Mesmo se caíssem no vácuo, não seriam capazes de atravessar um crânio, mas iriam machucar. Os Mythbusters também testaram essa teoria e foram cobaias do próprio experimento.
54. Os girassóis acompanham o sol. Só mudam de direção de acordo com o sol quando são jovens e necessitam aproveitar ao máximo a luz. Quando crescem e amadurecem, se fixam em uma posição, orientados ao leste.
55. “A sobrevivência do mais apto” e “a supremacia do mais forte” são termos de Charles Darwin. É verdade que Darwin escreveu a frase, mas só na introdução à quinta edição de A Origem das Espécies. E estava citando Herbert Spencer, que a tinha cunhado em seus princípios de biologia após ler a primeira edição do livro de Darwin. Ele escreveu que tinha usado o termo seleção natural, mas que a expressão “utilizada frequentemente pelo Sr. Herbert Spencer, da sobrevivência do mais apto”, era mais “exata”, e, “às vezes, igualmente conveniente.”
56. O homem veio dos macacos. Darwin nunca disse tal coisa. O que ele disse é que os macacos e os homens tem um ancestral comum, que, como explicam em ABC Science, foi um primata. Dizer que viemos do macaco é como dizer que somos filhos de nossos primos, conforme publicou o jornal The Guardian.
57. É possível hipnotizar uma serpente com uma flauta. Melhor não tentar: as serpentes são surdas e o que as acalma é o movimento do instrumento. A cobra movimenta a cabeça não por estar hipnotizada, mas porque é a forma como observa melhor todos os movimentos.
58. As serpentes são surdas. Não se deve confiar nos artigos que desmentem mitos, como este que você está lendo agora. Embora sejam hipnotizadas pelo movimento dos flautistas antes mencionado, as serpentes não são exatamente surdas. Não possuem ouvido externo, nem martelo, mas escutam graças às vibrações que chegam a seus crânios e às suas peles, o que permite que captem as ondas que se transmitem através do solo e também os sons graves que chegam pelo ar.

Obtido de: 58 mitos clássicos em que as pessoas crêem

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Saladino, o curdo mais respeitado entre os árabes

As mil e uma noites de Saladino

O homem mais respeitado do mundo árabe até hoje foi um curdo que viveu há mais de 800 anos. Conheça a história de Saladino, um sultão que uniu seu povo, tomou Jerusalém dos cruzados e virou o grande líder muçulmano

 

Mariana Sgarioni | 01/04/2005 00h00
”Os verdadeiros reis não se matam uns aos outros.” Depois de falar essa frase certeira, o sultão guarda a espada na cintura e oferece um refresco de água de rosas ao prisioneiro inimigo, que estava de joelhos diante dele, esperando o golpe final sobre sua cabeça. Estamos em 1187. O protagonista da cena é Salah al-Din Yusuf ibn Ayub, ou para nós, ocidentais, Saladino. Ajoelhado e rendido estava Guy de Lusignan, então governante cristão de Jerusalém, recém-tomada pelos muçulmanos.
Quem está acostumado a ver na TV prisioneiros decepados por extremistas da Al Qaeda pode imaginar que eles nada aprenderam com o maior líder do Islã de que se tem notícia. Em uma época nem tão diferente da nossa, em que governantes se mostravam traiçoeiros e cruéis, Saladino entrou para a história não só pela coragem de conquistar Jerusalém, mas por sua humanidade e simplicidade. Líder carismático, implacável na luta, generoso na vitória. Esse é o homem que você vai conhecer agora. “Saladino foi adorado até mesmo pelos seus inimigos”, resume Ridley Scott, diretor de Cruzada.
De família curda, Yusuf nasceu em 1137 nas montanhas de Tikrit, no Iraque – curiosamente, a mesma cidade natal de Saddam Hussein. Justo no dia de seu nascimento, seu tio Xirkuh, que mais tarde iria ensinar-lhe a guerrear, envolveu-se numa briga e a família teve de se mudar para a Síria.
O pai de Saladino, Najm ad-Dim, tornou-se o comandante da segurança da fortaleza do líder árabe Zengi, em Baalbek. Xirkuh, seu tio, chefiava parte do exército que, em 1144, tomou Edessa, no norte do Iraque, dos cruzados. Dois anos depois, Zengi morreu e foi substituído por seu filho Nur al-Din, uma liderança ainda mais forte na unificação dos domínios do Islã.
Jovem guerreiro
Por ordem do novo comandante, a família de Saladino mudou para Damasco, onde o patriarca teve como missão reorganizar a defesa da cidade. Por segurança, Saladino e os irmãos só podiam andar com soldados como guarda-costas. Sendo o terceiro filho homem, ele cresceu um tanto livre das cobranças que sofriam os primogênitos. Todos os dias, os irmãos se divertiam ensinando os soldados a jogar chogan, uma espécie de pólo, com os amigos. Outro passatempo infantil do futuro sultão era matar serpentes – os meninos mais corajosos, como ele, pisavam em suas cabeças. Isso chamou a atenção de Xirkuh, um bravo e impetuoso guerreiro, que começou a ensinar o sobrinho a cavalgar e a manejar a espada. E, observando o pai astuto, o menino aprendia a ser estrategista, a calcular cada passo e nunca agir por impulso. Segundo os historiadores, essa mistura de audácia e astúcia é que fez de Saladino um grande combatente.
Desde muito cedo, ele ficava impressionado e comovido com os horrores das histórias que ouvia sobre a tomada de Jerusalém. Os mais velhos contavam que seu povo havia sido queimado vivo e sua carne fora comida pelos cruzados. As mesquitas teriam sido profanadas e servidas como estábulo para que os animais dos cristãos defecassem.
O destino deu um empurrãozinho para que Saladino tivesse sua primeira oportunidade. O irmão mais velho morreu subitamente e o segundo na linha de sucessão irritava o pai por causa de sua indisciplina e teimosia. Assim, o jovem Yusuf ganhou muito mais atenção. Por outro lado, o cenário geopolítico também contribuía para o surgimento de um líder. Disputas de facções islâmicas causavam rivalidades entre povos. O surgimento da facção xiita rachou o Islã – os sunitas, como Saladino, ainda eram maioria e respondiam ao líder titular no Oriente Médio, o califa de Bagdá. As brigas eram tão intensas que muitos cristãos se aproveitavam desse racha para tomar cidades. Portanto, havia a necessidade urgente de unificação do mundo árabe.
Nessa mesma época, em 1164, Nur al-Din, da facção sunita, decidiu enviar suas tropas e invadir o Egito, governado por califas fatímidas (dinastia que se considerava descendente direta de Fátima e Ali, filha e genro do profeta Maomé), da facção xiita. A idéia era colocar ordem no país, que estava em pleno caos, sem depor os califas. O chefe do exército era ninguém menos que Xirkuh, o tio de Saladino, que insistiu em levar o sobrinho para o combate. Os dois guerrearam juntos e venceram uma série de lutas no sul da Mesopotâmia contra os muçulmanos xiitas, muitos apoiados pelos cruzados, até conquistar o Cairo, quatro anos depois.
O Soberano
Xirkuh foi proclamado rei do Egito, mas morreu dois meses depois, enquanto se esbaldava em um banquete fartamente servido de carneiros, cabras e codornas no espeto. Segundo o escritor paquistanês Tariq Ali, autor de O Livro de Saladino, ele se engasgou de tanto comer. Saladino teria ficado tão impressionado com a cena que passou o resto da vida preferindo pratos vegetarianos, como ervilhas cozidas. Outros escritores, porém, cogitam a hipótese de envenenamento.
Por ser jovem e inexperiente, Nur al-Din achou por bem que Saladino herdasse o trono – ele obedeceria a suas ordens sem se rebelar. Assim, em 1169, aos 31 anos, ele se tornou vizir, cargo que corresponde a uma espécie de ministro. A conselho do pai, nomeou irmãos e primos curdos para a maioria dos cargos importantes do seu reinado. Com uma equipe de total confiança, evitaria uma eventual traição. Foi aí que, dois anos depois, surpreendeu a corte de Bagdá ao acabar de uma vez por todas com os fatímidas, que dominaram a região por três séculos. Em reconhecimento, foi nomeado sultão – ou seja, governante absoluto – do Egito.
Com a morte de Nur al-Din, Saladino comandou um exército que assumiu o controle da Síria, unificando os dois reinos e tornando-se o imperador. Para o pesadelo dos cruzados, a união dos árabes progredia. “Quando Deus me deu a terra do Egito, eu tinha a certeza de que ele pretendia me dar também a Palestina”, teria dito o sultão, mostrando sua idéia fixa pela conquista do Reino de Jerusalém.
Antes de se dedicar à ofensiva final, restava ao sultão a tarefa de terminar de unir seu próprio império, já que ainda havia dissidências. Sua característica era a de sempre buscar uma solução diplomática antes de atacar – só usava a força militar quando não tinha possibilidade de diálogo. Em junho de 1183, ele tomou Aleppo, cidade de grande importância estratégicas, e em 1186 suas tropas dominaram a Alta Mesopotâmia. Nesse período, o sultão sofreu diversos atentados, todos sem sucesso. Em um deles, soldados xiitas cercaram sua cama enquanto dormia. Foi atingido de raspão por um punhal – morreria se seus seguranças, fiéis e atentos, não tivessem chegado a tempo.
Com o Islã unificado, Saladino se tornou o soberano mais poderoso da época. Naquele tempo Damasco, Cairo e Bagdá somavam uma população de cerca de 2 milhões de habitantes. Já Paris e Londres tinham menos de 50 mil moradores cada uma.
O Líder
O governo de Saladino foi o mais popular da história. No Cairo, era adorado pela população por sua simplicidade e por ter recuperado a economia local. “Para merecer o respeito do povo, e em particular de nossos soldados, devemos nos acostumar a comer e vestir como eles”, ele dizia. “Ao contrário dos califas fatímidas, Saladino não exigia que o povo pagasse imposto para ele acumular uma fortuna pessoal. Recompensava muito bem seus soldados e impedia que o país fosse assolado pela fome”, afirma o escritor Tariq Ali.
Tendo conquistado a fidelidade de súditos, era hora de partir para seu maior objetivo: Jerusalém. Saladino chamou os dois sobrinhos preferidos, filhos de seu irmão mais velho, para comandar os soldados. Sua popularidade era tão grande que vieram guerreiros de todos os cantos – só os curdos somavam cerca de 30 mil homens e, entre eles, havia judeus e cristãos convertidos ao islamismo. Saladino os conclamava para a mais esperada jihad (guerra santa). Por todos os lados só se ouvia um grito: “Allah o akbar” (Alá é grande!).
Milhares de soldados, arqueiros e espadachins começaram a chegar. O sultão ordenou que todos acampassem em Ashtara (na Síria), cidade em que havia muita água para beber e extensas planícies para a simulação de combates. O exército ali ficou por 25 dias. Foram convocados também 100 cozinheiros, com 300 ajudantes. Saladino fazia questão absoluta que todos recebessem a mesma comida. “Todos são semelhantes aos olhos de Alá, amigos ou inimigos”, dizia ele. Isso fez crescer o sentimento coletivo de solidariedade.
Ao desmontar os acampamentos rumo à guerra, o sultão inspecionava tudo pessoalmente e tinha a habilidade de lembrar o nome da maioria dos arqueiros e espadachins. “Ele não gostava de delegar tarefas e fazia questão de correr riscos junto com seus soldados. Queria lhes dar segurança e manter alto o moral da tropa”, afirma o professor Mohamed Habib, da Unicamp. Para tomar a cidade santa, Saladino primeiro cercou todas as fontes de água próximas – assim, ficaria difícil aos cruzados vencer o sol forte. “Vou mostrar a eles a força do deserto”, bradava. Na Batalha de Hattin (uma aldeia na Síria no caminho para Jerusalém), deixou os inimigos tontos ao instruir seus arqueiros a acertar os cavalos dos cruzados. “Um cavaleiro desmontado é como um arqueiro sem arco: inútil. Enquanto os inimigos tentarem se equilibrar no chão, nossos soldados os decapitarão.”
O Conquistador
Em 2 de outubro de 1187, as tropas de Saladino finalmente entraram em Jerusalém aos gritos de “Alá o akbar”. À frente, o sultão teria descido de seu cavalo e declarado a um mensageiro cristão: “Diga ao povo que não vamos tratá-lo como vossos antepassados nos trataram ao tomar esta cidade. Lembre a esses cristãos assustados o que os muçulmanos e os judeus sofreram há 90 anos: exibiram as cabeças de nossas crianças em estacas, homens e mulheres foram torturados e queimados”. Após o pronunciamento, mandou soltar as mulheres e até mesmo os cavaleiros que jurassem nunca mais o enfrentar. Proibiu que seus soldados desrespeitassem a honra das cristãs e saquear e profanar os lugares sagrados católicos.
Para manter sua conquista, Saladino lutou anos até assinar um acordo de paz com Ricardo Coração de Leão, da Inglaterra, por quem nutria boas relações diplomáticas, embora com certa antipatia. O sultão não perdoava Ricardo por ele ter mandado executar 3 mil prisioneiros muçulmanos numa sexta-feira – dia santo no Islã. Mesmo assim, o sultão era um gentleman: mandou dois de seus melhores cavalos árabes de presente a Ricardo quando soube que seus animais haviam morrido em combate. “Um grande homem como ele não deve andar, assim, a pé”, provocou.
O Homem
A palavra, para Saladino, era sagrada. Tendo dado a sua, a um amigo ou a um inimigo, ele sempre a mantinha. Diferente dos cristãos europeus, por exemplo, que achavam que nenhuma promessa feita a infiéis (ou seja, de outra religião) deveria ser cumprida.
Apesar de não ser dado às opulências de um sultão, Saladino usava, como o cargo pedia, vestimentas ricas, turbantes com pedras preciosas, e mantinha um harém com mais de 80 mulheres, entre esposas, escravas e amantes. Teve nada menos que 16 filhos.
Seu sucesso com as mulheres é sempre citado em biografias, embora o sultão fosse cego de um olho e um tanto franzino. Talvez porque Saladino as respeitasse, ao contrário da maioria dos homens de sua época – o estupro, por exemplo, era tolerado. Muitas vezes, perdoou adúlteras, livrando-as da morte por apedrejamento.
Exímio cavaleiro, um de seus hobbies favoritos era estudar raças de cavalo. Comentou certa vez que, de vez em quando, entendia melhor os cavalos do que os homens e que alguns dos melhores animais da Arábia haviam morrido na batalha por Jerusalém, o que era realmente lastimável.
Até hoje, muitas escolas militares do Oriente Médio ensinam estratégias criadas por Saladino. “Em vez de trabalhar com grandes tropas estáticas, preferia formar grupos que se movimentavam rapidamente. O que deixava os inimigos desorientados”, diz o professor Mohamed Habib.
Pouco antes de tomar Jerusalém, Saladino disse ao filho mais velho, Al-Afdal, de 19 anos, que herdou seu trono: “Lembre que todos somos mortais e governamos apenas porque o povo assim permite. Evite a cobiça e jamais ostente a riqueza para não demonstrar insegurança.” Por levar essa idéia ao pé da letra, Saladino morreu pobre.
Depois de assinar o tratado de paz com Ricardo Coração de Leão, ele voltou para sua for11taleza, em Damasco, já com a saúde debilitada. Seus escribas diziam que, durante os anos em que esteve em Jerusalém, o sultão não se cuidava: dormia duas horas por noite e não se alimentava direito.
Em fevereiro de 1193, aborrecido por causa de desentendimentos com o califa de Bagdá, que poderiam culminar em novo racha do Islã, Saladino caiu doente. Sentia febres, cólicas e não comia. Um mês depois, morreu, aos 55 anos. Como não possuía terras, ouro, nada de valor, seus seguidores pediram dinheiro emprestado para a argila seca que cobriria a sepultura. Afirma-se que, no leito de morte, o sultão disse: “Espetem um trapo em meu porta-bandeira e mostre ao povo que isso é tudo o que o Rei do Oriente levará ao túmulo.”

Quero ser Saladino

Ao longo da história, diversos líderes árabes vêm tentando reencarnar o grande guerreiro curdo. Todo líder árabe que se preze tem um só sonho: ser o novo Saladino. Ou pelo menos ser comparado a ele. Ninguém é louco o suficiente para falar de uma retomada de Jerusalém dos cruzados. O sonho é unificar o Islã. O conterrâneo moderno mais famoso do sultão é o ex-ditador iraquiano Saddam Hussein, que nasceu na mesma cidade do sultão, Tikrit. Talvez por isso ele gostasse de se autodenominar o novo Saladino – em sua leitura, uma espécie de libertador do povo árabe das garras do imperialismo. “Como ele queria fazer isso se foi aliado justamente dos Estados Unidos contra o Irã?”, pergunta o professor Mohamed Habib, da Unicamp. O aiatolá Komeini, por outro lado, até que tentou também. Depois de quase 20 anos no exílio, voltou ao Irã e fortaleceu seu povo política e economicamente. “Ele também fracassou, pois não se pode unir o mundo apenas tendo como base a religião. O que fortalece a união são o respeito, a tolerância, a ética e os direitos humanos – coisa que Saladino fazia como ninguém”, completa Habib. Gamal Nasser foi o que mais chegou perto. Em 1952, liderou uma rebelião que derrubou o rei Farouk, do Egito, conhecido colaborador da Inglaterra, que explorava o país. Com sua personalidade carismática, conseguiu instaurar um sistema de partido único, reformou as estruturas agrárias, combateu o fundamentalismo e pôs em prática o processo de industrialização. Apesar de ter sofrido algumas derrotas, Nasser se reafirmou como líder do movimento pan-árabe. A associação com a Síria, que deu origem à República Árabe Unida (1958-1961), pode até ser entendida como um primeiro passo em direção à unificação do mundo árabe.

Obtido de:

http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/mil-noites-saladino-434455.shtml?utm_source=redesabril_jovem&utm_medium=facebook&utm_campaign=redesabril_avhistoria

O líder mongol Gêngis Khan e a globalização no século XII.

Conheça a história do líder mongol Gêngis Khan

Ele ficou marcado por sua fúria em combate. Hoje uma nova faceta do líder mongol ganha força: a de hábil e visionário administrador do comércio internacional

Texto Flávia Ribeiro | Ilustração Eduardo Nunes | 17/08/2011 17h34
Nômade, pobre e analfabeto, Temujin nasceu e cresceu nas estepes da Mongólia na Idade Média. Tinha por volta de 13 anos quando planejou e executou o assassinato do meio-irmão, Begter, pouco mais velho que ele. Recrutou o irmão mais novo, Khasar, para juntos matarem Begter com duas flechadas certeiras: Khasar atirou pela frente e Temujin pelas costas. Ele já não aguentava ter que se submeter a Begter - que, desde a morte do pai (supostamente envenenado), assumira o comando do pequeno clã familiar. A gota d’água foi a disputa por uma cotovia caçada por Temujin, quando Begter se valeu de sua recém-conquistada posição de chefe da família para comer a caça do mais novo.


Temujin se tornaria Gêngis Khan, o homem que nunca aceitou se submeter à vontade de outros. "Ele nasceu num mundo muito duro. Viu cedo que precisava lutar para sobreviver. Não poderia ceder poder ao irmão. Não poderia ceder poder a ninguém", analisa o antropólogo Jack Weatherford, professor da Macalester College, de Minnesota (EUA), autor de Gengis Khan e a Formação do Mundo Moderno e The Secret History of the Mongol Queens: How the Daughters of Genghis Khan Rescued His Empire (Crown Publishers, 2010).

Lembrado como o conquistador bárbaro e cruel que dominou toda a Ásia, o Oriente Médio e a Europa Oriental no século 13 ao custo de milhares (ou milhões) de mortos, Gêngis Khan foi, mais do a imagem de sanguinário, o homem que lançou as bases da globalização ao ligar o mundo ocidental ao oriental de forma nunca vista antes. "Ele começou o primeiro grande sistema de comunicação e comércio internacional da história. Gêngis Khan estabeleceu as fundações do mundo moderno", afirma Weatherford.


No Império Mongol, que ele levou 20 anos para criar e outros tantos para consolidar, era possível ir da China ao Oriente Médio e à Europa por uma rede de estradas protegidas, ao comercializar produtos usando padrões de peso e câmbio definidos por um poder centralizado. No século 13, já circulava pelas terras tomadas por Gêngis Khan o papel-moeda, impresso em gráficas, 200 anos antes de Johannes Gutemberg criar a impressão com tipos móveis no Ocidente. Iletrados, os mongóis mantinham pessoas de cada povo conquistado em importantes postos da administração pública. Recrutavam especialistas de outras nações para seguir com eles: astrônomos muçulmanos, engenheiros chineses (que construíam canhões), mineiros germânicos... Gente de culturas e religiões distintas conviviam pacificamente.

"Gêngis Khan construiu um império multicultural e participativo. O modelo que ele levou ao mundo era igual ao chinês: um império governado por leis e por funcionários, onde a religião era uma opção pessoal, e a ciência, uma atividade de trabalho", explica o historiador André Bueno, professor da Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de União da Vitória (PR). Mas as leis promulgadas por ele eram soberanas. "A lei mongol era o guia da vida cotidiana e legislava sobre aspectos pragmáticos: roubo, sedição, violação etc. Quanto ao resto, como crenças e superstições, ficava por conta de cada comunidade, contanto que não se sobrepusesse à lei."

Vida dura

O caminho do conquistador - desde sua pequena tribo nômade até a posição de líder do maior império até então - foi difícil e atribulado. Quando matou o irmão, já tinha que cuidar do próprio sustento. Pelo crime, foi capturado pelo clã tayichiud, o maior da região, e tornou-se prisioneiro e servo. Não se sabe por quantos anos foi escravizado. Mas conseguiu fugir, casou-se em 1178 (aos 16 anos) com Borte Ujin - a noivinha que o pai escolhera para ele sete anos antes - e procurou a proteção de um antigo e poderoso amigo de seu pai, Torghil, conhecido como Ong Khan, o Grande Khan (chefe) da tribo kereyid. Pouco depois, Borte foi sequestrada por outra tribo, os merkids. Temujin, com o apoio do pequeno exército de um amigo de infância, Jamuka, atacou os inimigos e recuperou a mulher. A partir daí, alianças foram feitas e desfeitas com diversos outros líderes. Temujin rompeu com Jamuka por não aceitar ficar sob seu poder, arrebanhou partidários, formou um pequeno exército e iniciou, timidamente, sua escalada ao poder entre as tribos da estepe. "Os mongóis eram uma força incrível, mas dispersa e sem um líder. Gêngis era carismático, inteligente, obstinado e bom articulador. Sabia do potencial de seu povo e soube dirigi-lo. A riqueza ou a alfabetização não são fatores fundamentais para constituir uma liderança sólida. Esse líder de origem humilde atraiu milhares de seguidores por onde passou justamente por sua trajetória de vida", analisa Bueno.

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Temujin e Jamuka guerrearam por anos. Em 1189, Temujin foi endossado kahn (soberano) dos mongóis em um conselho de líderes tribais. Jamuka não aceitou. Na batalha que se seguiu, em 1190, diz a lenda que ferveu em um caldeirão 70 membros do exército de Temujin, derrotado no episódio. A briga continuou até que, em 1205, Jamuka foi finalmente derrotado e morto. No ano seguinte, Temujin foi proclamado Gêngis Khan, o "khan oceânico", o equivalente mongol para universal. Chegara o momento de expandir a nação. Quem não se rendesse seria destruído sem compaixão.

"Eles praticavam uma guerra de conquista cujo objetivo era infundir terror. Quem se submetesse sem lutar não passava por isso. Ocasionalmente, alguns lutavam de modo tão obstinado contra os mongóis que, ao serem finalmente derrotados, ganhavam seu respeito e confiança. Mas, em geral, as conquistas eram feitas com algumas chacinas exemplares. A ideia era simples: feita uma vez, ela não precisaria se repetir se os outros entendessem o recado", conta o historiador.

Um exemplo disso aconteceu na cidade persa de Nishapur. Um genro de Gêngis Khan foi morto lá, e uma de suas filhas pediu que a cidade fosse varrida do mapa. A carnificina foi tão grande que gerou até a lenda de que 1 748 000 pessoas foram mortas em uma hora - um exagero que só contribuía para levar pânico aos povos da vizinhança. A ordem era matar apenas a aristocracia da cidade e receber a população como parte do império. "Ele chegou a adotar muitas crianças de outros povos para mostrar que recebia todos como sendo iguais", diz Jack Weatherford.

Diferentemente dos outros exércitos, o mongol não tinha infantaria, apenas cavalaria. Eram um exército de 150 mil homens montados, quando conseguiam reunir a força máxima. Em uma guerra como a que travaram contra os jurcheds, por exemplo, 65 mil cavaleiros mongóis derrotaram 150 mil inimigos, 65 mil deles montados e outros 85 mil de infantaria, graças a estratégias inovadoras. Até então, os soldados lutavam em fileiras, e os exércitos avançavam lentamente porque levavam muitas provisões. Os mongóis, ao contrário, espalhavam-se por todo o campo onde cavalos e vacas se alimentavam. Bebiam o leite das vacas e as abatiam em plena campanha de guerra para comer a carne. Avançavam numa velocidade muito maior que a dos inimigos e atacavam de todos os lados.

Cabeça aberta


O gosto pela velocidade e pelas novidades foi fundamental na mudança que Gêngis Khan estava por imprimir no mundo. Depois de unificar as tribos mongóis, conquistou a China. De lá, partiu para o Oriente Médio e chegou ao Leste Europeu. Quando seus domínios já se estendiam por toda essa região, somando quase 13 milhões de quilômetros quadrados, ou um Brasil e meio, promoveu uma reestruturação na Rota da Seda, uma rede de estradas interconectadas que ligava Oriente e Ocidente. Seus homens construíram enormes armazéns em todas as grandes cidades e oásis. Colocaram pequenos postos a cada 40 km ao longo da rota. Em cada um deles, o viajante tinha acesso a água e comida e podia deixar seu cavalo cansado e pegar um descansado, seguindo viagem. "Ele criou a ‘super-highway’ da China à Europa Oriental. A Rota da Seda já conectava esses dois mundos desde o século 6 a.C., mas o transporte de mercadorias antes levava dez, às vezes 15 anos. A partir daí, o tempo baixou para cerca de dois anos. A comunicação ganhou outra velocidade também. Há informações de que a notícia de uma morte foi levada da Mongólia a Budapeste em apenas três semanas, em 1241", diz Weatherford.

Um sistema bancário também foi instituído nos postos: o viajante podia depositar dinheiro em uma estação e pegar de volta em outra. Nessa época, o uso do papel-moeda, inventado pelos chineses, passou a ser empregado em larga escala no Império Mongol. Mais uma mostra da modernidade daquelo povo? André Bueno conta que, com a enxurrada de dinheiro em papel mongol nos mercados asiáticos, eles também criaram a inflação: "Houve um forte impacto dessa inovação nas economias locais, aumentando os preços e a demanda por produtos importados de outras regiões." A ideia de passaporte também se difundiu nesse momento. Dependendo do material com que as placas levadas no pescoço eram feitas, sabia-se se o viajante era um diplomata, um aristocrata, um soldado ou um comerciante - e de onde vinha.

A troca de informações e de tecnologia foi intensificada. Além de produtos, a Rota da Seda transportava ideias. A China aprendeu a fazer vidro com os iranianos, e o Irã aprendeu a fazer pólvora com os chineses. "Ele uniu civilizações importantes da época ao fazer todo mundo trocar tecnologia em todas as direções. Foi o primeiro grande globalizador", analisa Weatherford, lembrando que os mongóis foram mais transmissores do que criadores de informações - porém eram espertos o suficiente para unir duas tecnologias e criar uma terceira. Foram eles que juntaram a pólvora chinesa aos sinos de ferro do Irã para criar o canhão, por exemplo.

Quando estava para morrer, aos 65 anos, em 1227, Gêngis ainda vivia em gers (tendas circulares de madeira e tecido), nômade como sempre foi. Em carta atribuída a ele, declarou: "Uso as mesmas roupas e como a mesma comida que os vaqueiros e tratadores de cavalos. Fazemos os mesmos sacrifícios e compartilhamos riquezas". Pouco antes da morte, dividiu o poder entre os quatro filhos e escolheu um deles, Ogodei, como Grande Khan. Mas foi o neto Kublai Khan quem mais se destacou ao fundar uma dinastia na China e receber o mercador veneziano Marco Polo, estendendo essa primeira fase da globalização até um lugar distante e misterioso: a Europa Ocidental.

A Rota da Seda


Por seus 7 mil km, circularam mercadorias e pessoas numa escala sem precedentes. "Os mongóis receberam bens de todo o mundo: seda para as roupas, ferro e aço para armas, remédios, móveis laqueados para suas tendas, joias, vinho, escrituras religiosas e livros", enumera Jack Weatherford. A seda que chegava era tanta que os mongóis a usavam muitas vezes para fazer embrulho: jogavam fora as cordas de couro cru e usavam fios torcidos de seda no lugar. A China exportou para eles e para a Europa pólvora, joias, perfumes, a tecnologia de fabricação do papel e a de impressão - e os engenheiros capazes de colocar esses conhecimentos em prática. Da Europa, eram trazidos móveis, joias, linho, roupas finas, prata, cavalos e mão de obra. Do Oriente Médio, astrolábios, tapetes persas, a tecnologia do ferro fundido, remédios, artesãos, matemáticos, cientistas e astrônomos. Da Índia e da Indonésia, algodão, musselina, pedras preciosas, pérolas e especiarias - como canela, noz-moscada, pimenta e gengibre. O intercâmbio também disseminou a varíola, o sarampo e a sífilis. A peste negra, que matou um terço da população europeia no século 14, começou na China e passou pelo Oriente Médio até chegar à Europa. Culpa da globalização.

Filhos de Gêngis
"Este Grão-Khan é o homem mais poderoso tanto no que diz respeito a seus súditos quanto a seu território ou a seu tesouro", escreveu o mercador veneziano Marco Polo, famoso por, supostamente, ter sido um dos primeiros homens da Europa Ocidental a percorrer a Rota da Seda. Marco Polo se referia ao segundo filho de Tolui, o caçula de Gêngis Khan. Sob seu domínio, o mundo criado por seu avô cresceu ainda mais. Kublai assumiu a liderança do império em 1260 e o governou por 34 anos. Seu reino se estendia por toda a China, Coreia, Mongólia, Tibete e regiões onde hoje ficam Irã, Iraque, Afeganistão, leste da Turquia e oeste do Paquistão, Azerbaijão, Rússia, Cazaquistão, Ucrânia, Sibéria e partes de Bielorrússia, Uzbequistão e Romênia. Em 1271, fundou a dinastia Yuan, linhagem de imperadores mongóis na China, que durou até 1368. Em 2003, cientistas publicaram um estudo chamado The Genetic Legacy of the Mongols no American Journal of Human Genetics. Nele, contam que encontraram um comossomo Y muito específico em 8% dos homens de uma grande região da Ásia antes ocupada pelo Império Mongol. Esses homens seriam descendentes diretos de Gêngis Khan. Sua linhagem representaria nada menos que 0,5% da população mundial.

Saiba mais

Livros


Sem Fronteira - Os Comerciantes, Missionários, Aventureiros e Soldados que Moldaram a Globalização, Nayan Chanda, Record, 2011.

Dos primeiros africanos que saíram de suas terras para colonizar o mundo, há 50 mil anos, ao mundo conectado de hoje, o autor analisa os atores da globalização. Entre eles, Gêngis Khan.

Gêngis Khan e a Formação do Mundo Moderno, Jack Weatherford, Bertrand Brasil, 2010.

O antropólogo americano visitou os lugares por onde o exército de Gêngis Khan passou, analisou as mudanças que ele imprimiu no mundo e estudou a história secreta dos mongóis.

Obtido de: Gengis Khan e a globalização no século XII

Jesus antes de Cristo

Jesus antes de Cristo

Numa incrível viagem à Palestina do século 1, historiadores e arqueólogos reconstituem com era a vida do homem comum que se tornou o filho de Deus para os mais de 2 bilhões de cristãos

Rodrigo Cavalcante | 01/12/2006 00h00
Cristo está em toda parte: nas obras mais importantes da história da arte, nos roteiros de Hollywood, nos letreiros luminosos de novas igrejas, nas canções evangélicas em rádios gospel, nos best-sellers de auto-ajuda, nos canais de televisão a cabo, nos adesivos de carro, nos presépios de Natal. Onde você estiver, do interior da floresta amazônica às montanhas geladas do Tibete, sempre será possível deparar com o símbolo de uma cruz, pena de morte comum no Império Romano à qual um homem foi condenado há quase 2 mil anos. Para mais de 2 bilhões de pessoas esse homem era o próprio messias (“Cristo”, do grego, o ungido) que ressuscitara para redimir a humanidade.
Embora o mundo inteiro (inclusive os não-cristãos) esteja familiarizado com a imagem de Cristo, até há bem pouco tempo os pesquisadores eram céticos quanto à possibilidade de descobrir detalhes sobre a vida do judeu Yesua (Jesus, em hebraico), o homem de carne e osso que inspirou o cristianismo. “Isso está começando a mudar”, diz o historiador André Chevitarese, professor de História Antiga da Universidade Federal do Rio de Janeiro e um dos especialistas no Brasil sobre o “Jesus histórico” – o estudo da figura de Jesus na história sem os constrangimentos da teologia ou da fé no relato dos evangelhos. Embora tragam detalhes do que teria sido a vida de Jesus, os evangelhos são considerados uma obra de reverência e não um documento histórico. Chevitarese e outros pesquisadores acreditam que, apesar de não existirem indícios materiais diretos sobre o homem Jesus, arqueólogos e historiadores podem ao menos reconstituir um quadro surpreendente sobre o que teria sido a vida de um líder religioso judeu naquele tempo, respondendo questões intrigantes sobre o ambiente e o cotidiano na Palestina onde ele vivera por volta do século I.
Nazaré, entre 6 e 4 a.C.
Uma aldeia agrícola com menos de 500 habitantes, cuja paisagem é pontuada por casas pobres de chão de terra batida, teto de estrados de madeira cobertos com palha, muros de pedras coladas com uma argamassa de barro, lama ou até de uma mistura de esterco para proteger os moradores da variação da temperatura no local. Segundo os arqueólogos, essa é a cidade de Nazaré na época em que Jesus nasceu, provavelmente entre os anos 6 e 4 a.C., no fim do reinado de Herodes. Isso mesmo: segundo os historiadores, Jesus deve ter nascido alguns anos antes do ano 1 do calendário cristão. “As pessoas naquele tempo não contavam a passagem do tempo como hoje, por meio da indicação do ano”, explica o historiador da Unicamp Pedro Paulo Funari. “O cabeçalho dos documentos oficiais da época trazia apenas como indicação do tempo o nome do regente do período, o que leva os pesquisadores a crer que Jesus teria nascido anos antes do que foi convencionado.”
Se você também está se perguntando por que os historiadores buscam evidências do nascimento de Jesus na cidade de Nazaré – e não em Belém, cidade natal de Jesus, de acordo com os evangelhos de Mateus e Lucas –, é bom saber que, para a maioria dos pesquisadores, a referência a Belém não passa de uma alegoria da Bíblia. Na época, essa alegoria teria sido escrita para ligar Jesus ao rei Davi, que teria nascido em Belém e era considerado um dos messias do povo judeu. Ou seja: a alcunha “Jesus de Nazaré” ou “nazareno” não teria derivado apenas do fato de sua família ser oriunda de lá, como costuma ser justificado.
Mesmo que os historiadores estejam certos ao afirmarem que o nascimento em Belém seja apenas uma alegoria bíblica, o entorno de uma casa pobre na cidade de Nazaré daquele tempo não deve ter sido muito diferente do de um estábulo improvisado como manjedoura. Como a residência de qualquer camponês pobre da região, as moradias eram ladeadas por animais usados na agricultura ou para a alimentação de subsistência. A dieta de um morador local era frugal: além do pão de cada dia (no formato conhecido no Brasil hoje como pão árabe), era possível contar com azeitonas (e seu óleo, o azeite, usado também para iluminar as casas), lentilhas, feijão e alguns incrementos como nozes, frutas, queijo e iogurte. De acordo com os arqueólogos, o consumo de carne vermelha era raro, reservado apenas para datas especiais. O peixe era o animal consumido com mais freqüência pela população, seco sob o sol, para durar. A maioria dos esqueletos encontrados na região mostra deficiência de ferro e proteínas. Essa parca alimentação é coerente com relatos como o da multiplicação dos pães, no Evangelho de Mateus, no qual os discípulos, preocupados com a fome de uma multidão que seguia Jesus, mostram ao mestre cinco pães e dois peixes, todo o alimento de que dispunham.
Se alguém presenciasse o nascimento de Jesus, provavelmente iria deparar com um bebê de feições bem diferentes da criança de pele clara que costuma aparecer nas representações dos presépios. Baseados no estudo de crânios de judeus da época, pesquisadores dizem que a aparência de Jesus seria mais próxima da de um árabe (de cabelos negros e pele morena) que da dos modelos louros dos quadros renascentistas. Seu nome, Jesus, uma abreviação do nome do herói bíblico Josué, era bastante comum em sua época. Ainda na infância, deve ter brincado com pequenos animais de madeira entalhada ou se divertido com rudimentares jogos de tabuleiro incrustados em pedras. Quanto à família de Jesus, os pesquisadores não acreditam que ele tenha sido filho único. Afinal, era comum que famílias de camponeses tivessem mais de um filho para ajudarem na subsistência da família. Isso poderia explicar o fato de os próprios evangelhos falarem em irmãos de Jesus, como Tiago, José, Simão e Judas. “As igrejas Ortodoxa e Católica preferiram entender que o termo grego adelphos, que significa irmão, queria dizer algo próximo de discípulo, primo”, diz Chevitarese.
Assim como outros jovens da Galiléia, é provável que ele não tenha tido uma educação formal ou mesmo a chance de aprender a ler e escrever, privilégio de poucos nobres. Ainda assim, nada o impediria de conhecer profundamente os textos religiosos de sua época transmitidos oralmente por gerações.
Política, religião e sexo
Desde aquele tempo, a região em que Jesus vivia já era, digamos, um tanto explosiva. O confronto não se dava, é claro, entre judeus e muçulmanos (o profeta Maomé só iria receber sua revelação mais de cinco séculos depois). A disputa envolvia grupos judaicos e os interesses de Roma, cujo império era o equivalente, na época, ao que os Estados Unidos são hoje. E, assim como grupos religiosos do Oriente Médio resistem atualmente à ocidentalização dos seus costumes, diversos grupos judaicos da época se opunham à influência romana sobre suas tradições. Na verdade, fazia séculos que os judeus lutavam contra o domínio de povos estrangeiros. Antes de os romanos chegarem, no ano 63 a.C., eles haviam sido subjugados por assírios, babilônios, persas, macedônios, selêucidas e ptolomeus. Os judeus sonhavam com a ascensão de um monarca forte como fora o rei Davi, que por volta do século 10 a.C. inaugurara um tempo de relativa estabilidade. Não à toa, Davi ficaria lembrado como o messias (ungido por Javé) e, assim como ele, outros messias eram aguardados para libertar o povo judeu (veja quadro na pág. 33).
A resistência aos romanos se dava de maneiras variadas. A primeira delas, e mais feroz, era identificada como simples banditismo. Nessa categoria estavam bandos de criminosos formados por camponeses miseráveis que atacavam comerciantes, membros da elite romana ou qualquer desavisado que viajasse levando uma carga valiosa.
Além do banditismo, havia a resistência inspirada pela religião, principalmente a dos chamados movimentos apocalípticos. De acordo com os seguidores desses movimentos, Israel estava prestes a ser libertado por uma intervenção direta de Deus que traria prosperidade, justiça e paz à região. A questão era saber como se preparar para esse dia.
Alguns grupos, como os zelotes, acreditavam que o melhor a fazer era se armar e partir para a guerra contra os romanos na crença de que Deus apareceria para lutar ao lado dos hebreus. Para outros grupos, como os essênios, a violência era desnecessária e o melhor mesmo a fazer era se retirar para viver em comunidades monásticas distantes das impurezas dos grandes centros. E Jesus, de que lado estava?
É quase certo que Jesus tenha tido contato com ao menos um líder apocalíptico de sua época, que preparava seus seguidores por meio de um ritual de imersão nas águas do rio Jordão. Se você apostou em João Batista, acertou.
O curioso é que, para a maioria dos pesquisadores, incluindo aí o padre católico John P. Meier, autor da série sobre o Jesus histórico chamada Um Judeu Marginal, o movimento apocalíptico de João Batista deve ter sido mais popular, em seu tempo, do que a própria pregação de Jesus. Os historiadores acreditam que é bem provável que Jesus, de fato, tenha sido batizado por João Batista nas margens do rio Jordão, e que o encontro deve ter moldado sua missão religiosa dali em diante.
Apesar de não haver nenhuma restrição para que um líder religioso judeu tivesse relações com mulheres em seu tempo, ninguém sabe ainda se entre as práticas espirituais de Jesus estaria o celibato. Da mesma forma, afirmar que ele teve relações com Maria Madalena, como no enredo de livros como O Código Da Vinci, também não passaria de uma grande especulação.

Uma morte marginal
O pesquisador Richard Horsley, professor de Ciências da Religião da Universidade de Massachusetts, em Boston, é categórico: a morte de Jesus na cruz em seu tempo foi muito menos perturbadora para o Império Romano do que se costuma imaginar. Horsley e outros pesquisadores desapontam os cristãos que imaginam a crucificação como um evento que causara, em seu tempo, uma comoção generalizada, como naquela cena do filme O Manto Sagrado em que nuvens negras escurecem Jerusalém e o mundo parece prestes a acabar. Apesar de ter sido uma tragédia para seus seguidores e familiares, a morte do judeu Yesua deve ter passado praticamente despercebida para quem vivia, por exemplo, no Império Romano. Ou seja: se existisse uma rede de televisão como a CNN, naquele tempo, é bem possível que a morte de Jesus sequer fosse noticiada. E, caso fosse, dificilmente algum estrangeiro entenderia bem qual a diferença da mensagem dele em meio a tantas correntes do judaísmo do período – assim como poucas pessoas no Ocidente compreendem as diferenças entre as diversas correntes dentro do Islã ou do budismo.
Os pesquisadores sabem, no entanto, que Jesus não deve ter escolhido por acaso uma festa como a Páscoa para fazer sua pregação em Jerusalém. A data costumava reunir milhares de pessoas para a comemoração da libertação do povo hebreu do Egito. No período que antecedia a festa, o ar tornava-se carregado de uma forte energia política. Era quando os judeus pobres sonhavam com o dia em que conseguiriam ser libertados dos romanos.
Para a elite judaica que vivia em Jerusalém, contudo, as manifestações anti-Roma não eram nada bem-vindas. Afinal, como ela se beneficiava da arrecadação de impostos da população de baixa renda, boa parte dela tinha mais a perder que a ganhar com revoltas populares que desafiassem os dirigentes romanos, cujos estilos de vida eram copiados por meio da construção de suntuosas vilas (espécie de chácaras luxuosas) nas cercanias de Jerusalém.
A própria opulência do Templo do Monte de Jerusalém, reconstruído por Herodes, o Grande, parecia uma evidência de que a aliança entre os romanos e os judeus seria eterna. A construção era impressionante até mesmo para os padrões romanos, o que fazia de Jerusalém um importante centro regional em sua época.
Em meio às festas religiosas, o comércio da cidade florescia cada vez mais. Vendia-se de tudo por lá, incluindo animais para serem sacrificados no templo. Os mais ricos podiam comprar um cordeiro para ser sacrificado e quem tivesse menos dinheiro conseguia comprar uma pomba no mercado logo em frente. A cura de todos os problemas do corpo e da alma (na época, as doenças eram relacionadas à impureza do espírito) passava pela mediação dos rituais dos sacerdotes do templo.
Não é difícil imaginar a afronta que devia ser para esses líderes religiosos ouvir que um judeu rude da Galiléia curava e livrava as pessoas de seus pecados com um simples toque, sem a necessidade dos sacerdotes. A maioria dos pesquisadores concorda que atos subversivos como esses seriam suficientes para levar alguém à crucificação.
Quase tudo o que os pesquisadores conhecem sobre a crucificação deve-se à descoberta, em 1968, do único esqueleto encontrado de um homem crucificado em Giv’at há-Mivtar, no nordeste de Jerusalém. Após uma análise dos ossos, eles concluíram que os calcanhares do condenado foram pregados na base vertical da cruz, enquanto os braços haviam sido apenas amarrados na travessa. A raridade da descoberta deve-se a um motivo perturbador: a pena da crucificação previa a extinção do cadáver do condenado, já que o corpo do crucificado deveria ser exposto aos abutres e aos cães comedores de carniça. A idéia era evitar que o túmulo do condenado pudesse servir de ponto de peregrinação de manifestantes. De qualquer forma, a descoberta desse único esqueleto preservado prova que, em alguns casos, o corpo poderia ser reivindicado pelos parentes do morto, o que talvez tenha acontecido com Jesus.
O que aconteceu após sua morte? Para os pesquisadores, a vida do Jesus histórico encerra-se com a crucificação. “A ressurreição é uma questão de fé, não de história”, diz Richard Horsley.
Tudo o que os historiadores sabem é que, apesar de pequeno, o grupo de seguidores de Jesus logo conseguiria atrair adeptos de diversas partes do mundo. E foi um dos novos convertidos, um ex-soldado que havia perseguido cristãos e ganhara o nome de Paulo, que se tornaria uma das pedras fundamentais para a transformação de Jesus em um símbolo de fé para todo o mundo. Com sua formação cosmopolita, Paulo lutou para que os seguidores de Jesus trilhassem um caminho independente do judaísmo, sem necessidade de obrigar os convertidos a seguirem regras alimentares rígidas ou, no caso dos homens, ser obrigados a fazer a circuncisão. A influência de Paulo na nova fé é tão grande que há quem diga que a mensagem de Jesus jamais chegaria aonde chegou caso ele não houvesse trabalhado com tanto afinco para sua difusão.
Mesmo para quem não acredita em milagres, não há como negar que Paulo e os outros seguidores de Jesus conseguiram uma proeza e tanto: apenas três séculos após sua morte, transformaram a crença de uns poucos judeus da Palestina do século I na religião oficial do Império Romano. Por essa época, a vida do judeu Yesua já havia sido encoberta pela poderosa simbologia do Cristo: assim como os judeus sacrificavam cordeiros para Javé, o Cristo se tornaria símbolo do cordeiro enviado por Deus para tirar os pecados do mundo. Desde então, a história de boa parte do mundo está dividida entre antes e depois de sua existência.

Obtido de: aventura_da_história_jesus_antes_de_cristo

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Alain de Botton: “MANTEMOS UM DESEJO EMOCIONAL COMUNISTA”

Para Alain de Botton, ser bem tratado é a vontade de todos. O escritor concedeu entrevista em Londres.

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FOTO JULIA RETTMANN/AE


Alain de Botton recebeu a coluna em seu escritório, num bairro afastado do centro de Londres. Ao lado do prédio onde fica seu recanto de trabalho, está a casa do escritor, construída completamente fora dos padrões londrinos de arquitetura. Envidraçada, janelas vazadas, diferentemente dos prédios baixos, escuros e pesados da capital britânica. O designer? Ele próprio. Apaixonado por arte arquitetônica, viagens e literatura, o filósofo – best-seller mundial – se define como “desbravador”.
Não à toa, aceitou a proposta de ficar no aeroporto de Heathrow registrando sensações, texturas e histórias que resultaram no livro Uma Semana no Aeroporto. E foi com o mesmo entusiasmo e igual curiosidade que o escritor resolveu desbravar o tema das religiões. Em seu próximo lançamento, Religião para Ateus. Botton – ateu convicto – se debruça sobre a prática da fé, interessado nos aspectos psicológicos e filosóficos que religiões e suas histórias oferecem: “Não acredito em Deus, energia ou forças maiores. Meu interesse está nas motivações humanas que levam indivíduos a acreditarem em Deus”, afirma.
O suíço, que mora na Inglaterra desde os 8 anos, tece ácidas críticas a Richard Dawkins (evolucionista radical) e questiona o crescente sentimento antirreligioso inglês: “É muito mais fácil ser ateu. As pessoas não querem nem pensar sobre isso”.
Além de escrever livros (já tem nove no currículo), Botton, aos 41 anos, mantém uma escola, a School of Life – com planos de abrir, em 2012, filial no Brasil. Chamada por ele de “centro de conhecimento emocional”, o filósofo defende que os relacionamentos humanos são matéria a ser estudada.
O escritor estará no País em novembro, para participar do ciclo de palestras Fronteiras do Pensamento. Falará, dia 21, em Porto Alegre. E na Sala São Paulo no dia seguinte.
Abaixo, os principais trechos da conversa.
Fala-se muito da falta de ideologias no mundo atualmente. Que a juventude está perdida, sem ideais. Concorda com isso?
Acho que não. Claro que já houve épocas em que as ideologias eram mais claras. Se você era um jovem sensível, de esquerda, em 1930 na Inglaterra, era um comunista e ponto. Hoje em dia, você lê o The Guardian, é preocupado com o meio ambiente e talvez não haja um rótulo para isso. Você admira alguns capitalistas, mas detesta outros. Gosta do Steve Jobs, mas fica assustado com a tecnologia. É mais confuso mesmo. Mas isso não é necessariamente ruim. Na verdade, é um lugar bom, esse. Porque você está em uma posição de questionamento.
Mas o que vimos nos últimos meses no mundo árabe com asua “primavera” não é reflexo de uma força ideológica?
A democracia é o melhor sistema para os seres humanos. Mas talvez ainda demore cerca de 50 anos até que eles cheguem lá. Ainda está muito instável. Há que ser muito otimista para achar que já está dando certo. Se olharmos para a Revolução Francesa, em 1789, demorou até pelo menos 1815 para as coisas se sedimentarem. Talvez daqui meio século possamos dizer que a “primavera” deu certo. Vamos esperar para ver.
Os tumultos de agosto, envolvendo jovens no norte de Londres, geraram grande polêmica. Quais foram, na sua opinião, as motivações daqueles protestos?
Acho deprimente. Não creio que seja dinheiro o problema. Existe um caráter financeiro, mas acho que o que falta a esses meninos é senso de pertencimento, de significado. E o governo não tem como apertar um botão, produzir e inserir essas coisas na sociedade. São fatores culturais muito profundos, que nascem e crescem nos relacionamentos.
Você já apontou, em palestras, que um dos problemas atuais das sociedades é uma base na meritocracia. Pode explicar?
Meritocracia é uma ideia muito valorizada na política. Trata-se de um conceito em que todos chegam aonde merecem. As conquistas são por mérito. Se você for inteligente, cheio de energia e uma boa pessoa, chegará ao topo, ao máximo. Mas se for preguiçoso e burro, não sairá do lugar. Essa é a ideia moderna de política. E, convenhamos, é maluca. Lógico, você deve batalhar por aquilo que deseja, mas achar que basta soltar todos em uma corrida e que o primeiro que chegar leva o prêmio é, acima de tudo, muito injusto.
Por que injusto?
Porque não mandamos em tudo. Por exemplo, a aparência física de uma pessoa é totalmente fora de seu poder. E, no entanto, muitas coisas na vida dependem da nossa aparência. O nível de inteligência, saúde, e outros aspectos também. A ideia de que, se você for bom, chegará ao topo, é muito rasa. Quando falo em meritocracia, alerto para atitudes recorrentes em grandes empresas. Onde as pessoas, em nome dessa ideia, tornam-se cruéis. O indivíduo não é responsável por tudo e também não é isento de escolhas. Existem nuances nesse processo.
Você também afirma que as relações humanas se desgastam muito quando entra o contato com o consumismo. Acredita que estão falidas?
Não. Contudo, quando você sai da esfera dos relacionamentos pessoais e entra nas relações capitalistas, sempre existe o dinheiro e pressões na equação. Todos sabemos como operar nesse campo. Mesmo assim, é muito ofensivo emocionalmente. Na verdade, mantemos um desejo emocional comunista. De ser bem tratado. Apesar do sistema comunista ter falhado economicamente, emocionalmente ainda é o que queremos.
Você é ateu, mas explora, em seu novo livro, o valor das religiões. Por que esse tema?
Atualmente, muitos não acreditam em Deus e, por isso, não têm nenhum envolvimento com religiões. Como ateu, olho para as manifestações religiosas e penso: o que podemos extrair delas? Os rituais, atitudes de comunidade. As respostas que elas oferecem. Acho isso muito interessante.
Sente que existe um senso antirreligioso forte?
Especialmente aqui na Inglaterra. Pessoas como Richard Dawkins, que atacam violentamente as religiões. Penso que devemos deixar os religiosos em paz. E analisar, psicologicamente, seus valores. Que necessidades humanas que levam um indivíduo a acreditar em Deus? São questões como esta que me interessam. Se você não acredita em Deus, o que acontece com essas necessidades? Com a sensação de conforto, de pertencimento?
Acredita que o ateísmo está na moda? Hoje em dia é mais fácil ser ateu do que ter fé?
Sim. Hoje em dia é mais fácil ser ateu. Acho que as pessoas não querem nem pensar a respeito.
O 11 de Setembro completou dez anos. Acha que esse evento modificou a vida das pessoas?
Detesto a ideia de que eventos grandes mudam a maneira como vivemos. O 11 de Setembro foi provocante, mas não modificou a maneira como amamos e odiamos. Só percebemos que o ser humano pode ser assustadoramente ruim. Se existe algo, nos últimos anos, que podemos dizer que mudou a maneira como o ser humano se relaciona, talvez seja a internet.
Mudou de que maneira?
As máquinas modificaram nossa consciência. Principalmente no que tange ao relacionamento com a ficção. Estamos perdendo a arte da concentração. Por essas máquinas serem tão estimulantes e rápidas, ler um livro tornou-se entediante perto delas e do Facebook, por exemplo. Isso é uma preocupação.
Com o que se preocupa?
Saber ficar entediado, quieto, concentrado são qualidades que não podemos perder. Antigamente, as pessoas iam aos monastérios para ficar em silêncio, pensar. E não entendíamos. Mas faz sentido. Precisamos de períodos de quietude. Sem computadores. Me preocupa o ‘spam’ de atenção que essas máquinas causam.
Percebe esse “spam” de atenção nos seus filhos?
Não, porque bani a internet e a televisão da vida dos meus filhos (risos). É horrível, mas não consigo. O máximo que permiti foi um Kindle, e eles já estão animadíssimos (risos).
Por que resolveu fundar uma escola como a School of Life?
Comecei a me perceber muito solitário como escritor. E sempre tive vontade de trocar ideias com colegas. Entendo que alguém sozinho não muda nada. É preciso se reunir. E foi o que fiz com pessoas que estavam escrevendo livros parecidos com os meus e falando coisas que dialogavam comigo.
O que encontrou em comum com seus sócios? Qual a ideia central da School of Life?
Olhamos o mundo essencialmente da mesma maneira. Acreditamos que deve haver uma conexão entre cultura, conhecimento e sabedoria. Para isso, construímos essa organização. É divertido e dá um trabalho imenso.
Por que abrir uma filial da School of Life no Brasil?
Vamos lançar uma série de livros no ano que vem e queremos fazer um ciclo de palestras para testar o apetite. Não só no Brasil, mas em outros quatro países, entre eles Austrália e Turquia. São lugares onde sentimos que há interesse por um “conhecimento emocional”. Povos abertos para esse tipo de experiência. Não há motivo para uma filial na França, por exemplo. Os franceses não estão interessados nisso (risos).
Você escreve em seus livros sobre o quão cruel pode ser o julgamento social que as pessoas fazem umas das outras…
É consentimento psicológico do capitalismo. Em todo centro urbano do mundo há o mesmo problema. É uma coisa de status. Precisamos encontrar um tipo de alívio para essa pressão. Seja ter filhos, curtir a natureza, ter fé em alguma religião, arte. Algo para sair desse enorme sistema de julgamento. É preciso ser muito forte para não ouvir essas vozes.
Não tem vontade de voltar a escrever ficção?
Sim. Meu próximo livro de ficção será sobre casamento.
Está estudando o tema?
Claro (risos). É algo complicado. Na School of Life tentamos ensinar as pessoas a serem casadas. Os acadêmicos acham isso ridículo. Entendem aulas sobre geografia, física, literatura, mas não sobre casamento. Defendemos que é uma matéria a ser estudada. E profundamente séria.
O Brasil incluiu a filosofia como matéria obrigatória no ensino médio. O que acha?
Acho que psicologia também seria interessante. Deveríamos aprender como a vida emocional se organiza.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Por que não dá para ir mais rápido que a velocidade da luz?

Por que não dá para ir mais rápido que a velocidade da luz?

É o que a Teoria da Relatividade ensina: quanto mais um objeto é acelerado, mais massa ele ganha. Isso porque energia e massa são duas faces da mesma moeda – podem ser convertidas uma na outra.

por Rodrigo Rezende

 

Porque, quanto mais você corre, mais massa você tem. Isso mesmo. E, antes de a velocidade do seu corpo chegar a 1,08 bilhão de km/h (a velocidade da luz), ele já terá mais massa que o Universo inteiro. Aí não há, nem nunca haverá, um motor forte o bastante para acelerá-lo. É o que a Teoria da Relatividade ensina: quanto mais um objeto é acelerado, mais massa ele ganha. Isso porque energia e massa são duas faces da mesma moeda – podem ser convertidas uma na outra. Bom, conforme um objeto vai aumentando de velocidade, a energia contida no movimento dele vai se transformando em massa. Você não percebe, mas isso acontece o tempo todo com tudo o que existe. Inclusive com o seu corpo, quando você dá um sprint na pista de cooper. Mas calma: o aumento de massa que a relatividade proporciona nessas condições não vai ameaçar sua dieta, já que ele é menor que 1 bilionésimo de grama. Se você correr a 1,07 bilhão de km/h, o equivalente a 99,9% da velocidade da luz, aí, sim, a situação fica preocupante: um homem com 80 kg passa a ter 2 toneladas. A exatamente 99,99999999%, a massa desse sujeito chegaria a 5 600 toneladas. E por aí vai: se desse para chegar a 100% da velocidade da luz, sua massa ficaria infinita. E tem outro problema: a relatividade mostra que, quanto mais rápido um corpo estiver, mais devagar ele envelhece. Aí, quando você chega perto do 1,08 bilhão de km/h, acontece um absurdo lógico: o tempo passa tão lentamente para você que, quando seu relógio tiver marcado um segundo, o fim dos tempos já terá chegado. Quer dizer: não existe tempo disponível no Universo para que você chegue à velocidade da luz. Nem nunca vai existir.

Se a velocidade da luz é o limite, então outras coisas interessantes podem decorrer disso? Sim. Espere pelos próximos blogs.

 

Obtido de: superinteressante - velocidade da luz

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